segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Charlatanice ou Pós-Ignorância, eis a questão

A vida com Internet dificultou o trabalho dos charlatões.

Há uns 15 anos atrás era muito fácil ser um senhor sabe-tudo. Era só ler um pouco, se manter razoavelmente informado pelos jornais e ter muita cara-de-pau. Se você dizia com convicção que o petróleo ia acabar no ano de 2003, todo mundo acreditava. Afinal de contas, era muito difícil buscar dados que confirmassem ou contradissessem o que foi dito.

Mas hoje em dia é muito fácil alguém te desmentir. Tem sempre um filadapú prontinho pra entrar na Internet no seu celular na hora e dizer que você está errado.

É claro que a Internet também permitiu que o charlatão também tivesse mais acesso à informação. Uma pessoa poderia dizer, inclusive, que facilitou o trabalho de charlatear.

Mas a verdade é que para ser charlatão nestes tempos modernos uma pessoa tem que ser mais bem informada do que antigamente, tem que ter um site trucho que corrobore o que ele diz e que de preferência consiga que seja o primeiro a aparecer no Google em caso de uma busca pelo assunto e, por fim, ter um artigo convincente no Wikipedia.

Ou seja, dá muito mais trabalho.

É por isso que surgiu o pós-ignorante. Ele é o charlatão do século xis-xis-í. Ele não precisa provar nada a ninguém. Ele só discute os assuntos, não afirma. Ele não responde a perguntas, ele cria mais dúvidas. Ele lança umas meias-verdades em meio a alguns pseudo-auto-questionamentos e deixa a todos achando que é um gênio. Cospe referências como um velho lança perdigotos ao reclamar da sopa fria. Não é cara-de-pau, ele acredita no que diz e sabe que não diz nada. Duvida de si antes que duvidem dele. É uma evolução natural da humanidade.

“Não tenho certeza, mas acho que li em algum lugar [no Globo, acho] que foi Schopenhauer quem disse que pela primeira vez que a China seria uma potência um dia e cresceria mais de 10% ao ano. Mas poderia ter sido Lincoln, não lembro direito.”

É uma arte, é uma habilidade que está além das capacidade do humano comum, é uma filosofia de vida só alcançada anteriormente por Confúcio!

É por isso que não me pretendo ser um pós-ignorante. Sou apenas um pós-ignorante wanna be. Assim, escrevo um site sobre a pós-ignorância e estou produzindo um artigo no Wikipedia. Tenho que assumir minha condição de charlatão até que tenha a maturidade suficiente para evoluir – que nem um pokemon.